segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Julgamento de deputado pró-democracia de Macau arranca na terça-feira

Macau, China, 15 jan (Lusa) - O julgamento do deputado pró-democracia de Macau Sulu Sou, acusado do crime de desobediência qualificada, arranca esta terça-feira no Tribunal Judicial de Base (TJB, primeira instância).

A primeira audiência de julgamento foi inicialmente marcada para dia 09 de janeiro, mas o juiz titular do processo autorizou o pedido apresentado pelo advogado de defesa, o português Jorge Menezes, decidindo adiá-la em uma semana.

A Assembleia Legislativa suspendeu, em 04 de dezembro, o mandato do parlamentar, um feito inédito desde 1997, permitindo o avançar do processo judicial contra Sulu Sou, que vai acusado do crime de desobediência qualificada na sequência de um protesto que remonta a maio de 2016, quando ainda não era deputado.

Sulu Sou, de 26 anos, o mais jovem deputado de Macau, conquistou um assento no hemiciclo nas eleições de setembro último por via de uma lista afiliada daquela que é a maior associação pró-democracia do território, a Novo Macau.

Em causa no processo judicial, em que também é arguido Scott Chiang, então presidente da Novo Macau, está o protesto de 15 de maio de 2016, convocado pela associação contra a controversa atribuição, por parte da Fundação Macau, de um subsídio de 100 milhões de reminbis (13,7 milhões de euros ao câmbio da altura) à Universidade de Jinan, na China.

A Novo Macau entendia haver conflito de interesses por o chefe do executivo presidir ao Conselho de Curadores da Fundação Macau e ser, em simultâneo, vice-presidente do Conselho Geral da Universidade de Jinan.

Mais de 3.000 pessoas, segundo os organizadores, e 1.100, de acordo com a polícia, saíram então à rua para pedir a demissão do líder do Governo, Fernando Chui Sai On.
O caso de Sulu Sou tem estado na ordem do dia e só na semana passada conheceu dois novos desenvolvimentos que se encontram interligados.

Sulu Sou apresentou um recurso junto do Tribunal de Segunda Instância para garantir que foram respeitadas as regras relativas ao processo que levou à suspensão do seu mandato pela Assembleia Legislativa (AL). E, dias depois, foi admitido no hemiciclo um projeto de resolução visto como uma "reação direta" ao recurso apresentado junto do TSI por Sulu Sou.

"Não estou à procura que os tribunais olhem para os méritos da deliberação que me suspendeu: os deputados votam de acordo com a sua consciência. Eu solicitei aos tribunais para verificarem se a AL infringiu a lei e violou os meus direitos nos atos processuais que levaram à minha suspensão", afirmou o deputado pró-democracia, num comunicado publicado na rede social Facebook.

O projeto de resolução, da iniciativa dos deputados Vong Hin Fai e Kou Hoi In (ambos eleitos por sufrágio indireto, ou seja, através das associações), tem apenas dois artigos.

O primeiro, sobre a natureza dos atos, refere que "as deliberações do plenário que determinam a suspensão ou perda do mandato de deputado são atos de natureza política, que estão excluídos do contencioso administrativo, fiscal e aduaneiro", enquanto o segundo artigo propõe que entre em vigor no dia seguinte ao da sua publicação e produza efeitos desde 20 de dezembro de 1999.

A votação do referido projeto de resolução, intitulado "Natureza política das Deliberações do Plenário da Assembleia Legislativa", foi agendada precisamente para terça-feira, dia em que tem início o julgamento de Sulu Sou, no TJB.

DM // VM

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